– E essa placa aí? Não te deu siricutico, dona revisora? 🤓
Jamais! Além de eu amar soluções criativas, tem uma coisa chamada preconceito linguístico que preciso abordar aqui antes de postar alguns trabalhos meus. 🔎 Pegando emprestada a definição do linguista Marcos Bagno, o preconceito linguístico é todo juízo de valor negativo (de reprovação, repulsa ou mesmo desrespeito) às variedades linguísticas de menor prestígio social.
Quando a gente tira sarro de alguém que troca letras, não usa o plural ou encurta palavras, seria bom nos questionarmos se não há um preconceito arraigado lá no nosso fundinho. Spoiler: geralmente tem. Por mais que seja difícil admitir. Quem não fala o português padrão costumam ser pessoas de condições culturais, regionais e/ou socioeconômicas desfavorecidas, percebe?
Só que existe uma lógica por trás de todas as variações linguísticas. O Marcos Bagno inclusive as compara a fenômenos evolutivos de outros idiomas: falar ou escrever “árvre” no Brasil é considerado incorreto, mas sabia que árvore em francês é “arbre”? Quase igual, hein? 🌳 🌰
Tal fenômeno não é raro nem difícil de explicar. Ao longo da História, o ritmo da fala foi se acelerando e alguns sons mais sutis acabaram desaparecendo da língua falada. É como a bela palavra “cuniculus”, do latim, que deu origem ao nosso famoso… coelho! 🐇 Essas encurtadas aconteceram a rodo nas línguas latinas – assim como outros tipos de variações.
No caso dessa placa encontrada em Minas Gerais, pergunto: quantos mineiros falam “féche” em vez de “féchi”? E “pôrtêra”, que além da sílaba tônica tem outra sílaba forte – assim como “melância”? Você sabe a regra do “x” e do “ch” de cor? Eu, que sou revisora há duzentos anos 👵🏻, não faço ideia. E outra: será que o cara que fez a placa precisa dominar a norma culta da língua portuguesa pra se comunicar com eficiência na realidade em que vive?